Gripe aviária em granja muda o jogo e atinge economia do frango
Foram exatos dois anos da entrada do vírus H5N1 no Brasil até o registro oficial da presença da gripe aviária em uma granja comercial no município gaúcho de Montenegro, na Grande Porto Alegre. Muita coisa muda a partir de agora, como estamos vendo no noticiário. Mais de 30 países já suspenderam as compras do Brasil e essa lista vai aumentar. Os estragos do surto são imediatos no campo econômico, os consumidores, porém, não precisam se preocupar porque a doença não é transmitida pelo consumo de carne ou de ovos.
A gripe aviária de alta patogenicidade (IAAP) é causada por variantes do vírus influenza e é altamente contagiosa entre aves e outros animais e o maior temor é a transmissão para granjas comerciais. Até este caso, que coloca o país em alerta total, tinham sido 166 registros da doença, dos quais 163 em aves selvagens e três em plantéis de subsistência. Pelas normas internacionais, o Brasil, que é o maior exportador mundial de carne de frango, ainda mantinha o status de livre da doença.
Nesse momento a corrida é para isolar, controlar e erradicar o mais rápido possível o foco e impedir o avanço da doença para que não haja rebaixamento do atual status. É esta chancela oficial internacional que escancarou as portas de praticamente todos os países do mundo para os produtos avícolas brasileiros. Mas até o fim do processo de reconhecimento de que o foco foi contido e o vírus eliminado, haverá consequências para toda a cadeia.
Uma portaria do Ministério da Agricultura (Mapa) declarou estado de emergência zoossanitária por 60 dias. A granja onde foi detectado o vírus é especializada na produção de ovos para incubação e, além da eliminação das 17 mil matrizes, foram rastreados os destinos dos ovos vendidos. Eles chegaram a Minas Gerais e ao Paraná, além do próprio Rio Grande do Sul. Tudo tem que ser descartado, mesmo sem comprovação de que haja contaminação. O entorno da granja, num raio de 10 quilômetros, passa também por um pente fino.
Os especialistas admitem que era questão de tempo que a gripe aviária chegasse às granjas comerciais. Os dois anos que o país teve até que isso acontecesse serviram para que o sistema de vigilância e controle se fortalecesse, tanto pelo lado dos órgãos oficiais como da cadeia avícola. Na avaliação do Mapa, a identificação rápida deste caso em Montenegro e as ações subsequentes “demonstram a robustez do sistema de inspeção do Brasil”.
Em Mato Grosso, o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea) anunciou o reforço nas fiscalizações, o que inclui o aumento das inspeções em propriedades rurais que mantêm aves de fundo de quintal e nas granjas comerciais. Haverá mais coletas de amostras de secreções de galinhas, patos, gansos e perus de criações domésticas.
O estado mantém 37,2 milhões de aves comerciais e os municípios de Nova Mutum, Primavera do Leste e Lucas do Rio Verde concentram a maior produção. Os veterinários do Indea vão intensificar a vigilância de cargas de produtos e animais vindos da região sul. Nos dois últimos anos, o órgão contabilizou quase 16 mil ações de vigilância para a prevenção de IAAP.
Um diferencial no estado é que a Associação Mato-grossense de Avicultura (Amav) tem um seguro avícola contra influenza aviária e a Doença de Newcastle. Os plantéis dos associados estão cobertos contra ocorrências dessas doenças, com destinação de recursos para um fundo indenizatório e para a contenção de eventuais focos.
Rígidos protocolos sanitários norteiam os negócios internacionais e a suspensão automática das compras está prevista nos acordos. A praxe inclui a comunicação oficial de surtos à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) e a todos os representantes da cadeia produtiva. Entre os que já suspenderam as compras estão China, União Europeia, México, Uruguai, Chile e Argentina.
O governo federal se esforça para conseguir a adesão de mais países ao conceito de regionalização das restrições à exportação somente aos 10 quilômetros de raio do foco. Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Filipinas já aprovaram esse princípio para a influenza aviária. Porém, há países que adotam o bloqueio aos municípios ou aos estados. E outros que se fecham para o país inteiro, mesmo que seja para um gigante territorial como o Brasil.
O ministro Carlos Fávaro disse que tem expectativa de que a erradicação deste foco seja rápida e que a normalidade comercial seja retomada em breve. Neste cenário, a transparência das ações e dos resultados obtidos deve ser absoluta para tranquilizar o consumidor brasileiro e o de fora.
Orientar bem a população é essencial num momento sensível como este. Explicar por que os riscos de transmissão para humanos são baixos e restritos quase que somente a quem lida diretamente com as aves infectadas. E estes profissionais precisam de atenção máxima para se manterem protegidos. E vale reforçar que ninguém precisa parar de comer frango ou ovos que tenham origem conhecida e certificada.
*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte.
Compartilhe
Assine o eh fonte
Tudo o que é essencial para estar bem-informado, de forma objetiva, concisa e confiável.
Comece agora mesmo sua assinatura básica e gratuita: