Mas será o benedito !?

Foto: Secom-MT
Esse título da coluna é uma expressão mineira de 1930, popular em todo país até os dias de hoje. Manifesta desalento, impaciência e perplexidade frente a acontecimentos.
Assim, tomo a liberdade de aplicá-la ao imbróglio atingindo a obra anunciada como certeira pelo governo de Mato Grosso, que foi a troca do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) pelo Transporte Rápido por Ônibus (BRT) como transporte público para as cidades de Cuiabá e Várzea Grande.
Nesta terceira semana de 2025, o governador e o consórcio construtor do BRT revelaram, na mídia, desentendimentos que sugerem atraso, no mínimo, de um ano em relação ao prazo inicial para conclusão do modal.
Mauro Mendes (União) criticou a demora das obras, considerando “inadmissível” a lentidão, e anunciou que, “se não houver uma reação muito rápida dos construtores nos próximos 10 dias, o bicho vai pegar para o lado deles”. Mas não antecipou que tipo de “bicho” seria, ou seja, o que a administração estadual fará.
Aparentemente, a lua de mel do governo com o consórcio construtor do BRT acabou. Após essas críticas de Mendes, as empresas responsáveis pela sua execução responderam, imputando o atraso a “impasses técnicos, problemas com o edital de licitação, mudanças frequentes no traçado e disputas políticas” entre o governo de MT e a prefeitura de Cuiabá.
Mencionaram dificuldades com licenças ambientais e citaram erros no anteprojeto, como incompatibilidade das estações com os veículos.
Essa confusão do BRT agora relatada sinaliza um cenário que beira a irresponsabilidade – em que tudo inicia, mas não termina. De pronto recordei do desprezado VLT, cuja finalização sempre defendi por julgar a medida mais sensata, ainda que perante o quadro de erros e corrupção envolvendo sua execução.
Porém, o governo, ao seu livre arbítrio, sem consultar a preferência das duas cidades, decidiu pelo BRT e vendeu os vagões do VLT de Cuiabá para a Bahia.
A novidade da vez é a exposição das ‘questões técnicas e políticas’ não indicadas no projeto como fatores para atrasar o BRT. Segundo os construtores, entre outubro de 2022 (início das obras) e 28 de janeiro de 2024, o consórcio esteve impedido de executar 84,3% do escopo contratado. Entre janeiro de 2024 e 13 de outubro de 2024, data original de conclusão dos serviços, houve impedimento de executar 59,1% da meta.
Desse modo, o prazo de finalização do BRT foi estendido até 9 de novembro de 2025, mais de um ano após o que foi previsto.
“É um monte de blá-blá-blá, dificuldades, falta mão de obra, não tem justificativa plausível, tanto que eu botei quente agora, apertamos secretarias e as secretarias estão apertando eles”, apontou Mauro Mendes.
Por sua vez, a Secretaria de Infraestrutura e Logística (Sinfra) disse que cabe ao consórcio apresentar soluções técnicas para as falhas identificadas – como o posicionamento de portas de estações, realização de drenagem na Avenida da Prainha e melhorias em viadutos.
Destacou ainda que o modelo de contratação – Regime Diferenciado de Contratação Integrada (RDCI) – do BRT prevê que “todo o detalhamento da obra e dos demais projetos são de responsabilidade da empresa contratada, no caso o consórcio”.
Nessa pendenga entre consórcio construtor e governo, uma questão é ressaltada – a de gestão. Para Mendes, o governo paga em dia. “Se tem uma empreiteira performando mal, é por incompetência, falta de gerenciamento”, disse em entrevista à rádio CBN.
Para o consórcio, foram “os problemas de gestão por parte dos órgãos públicos” que comprometeram o andamento dos trabalhos, ocasionando “paralisação das obras, desmobilização de trabalhadores, realização de novos estudos e revisão dos projetos”.
A realidade é que, apresentado como solução para o transporte público da capital e de Várzea Grande, a execução do BRT virou uma confusão.
Imagino os perrengues que passam diariamente os moradores da região do CPA com a morosidade dos serviços, dificuldades essas agora estendidas por mais um ano.
Foi assim com o VLT, cujas obras, na minha região do Coxipó, causaram transtornos aos residentes e transeuntes por um bom tempo naqueles idos de 2013/2014.
Ao final, sobraram apenas os trilhos do VLT, já enferrujados pelo tempo, no viaduto da UFMT.
A ver os próximos capítulos desse jogo de empurra-empurra do BRT.
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