COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Não deu outra com o BRT

Foto: Christiano Antonucci/Secom MT

 

Mesmo antes da decisão da implantação do BRT (Ônibus de Trânsito Rápido) em Cuiabá-Várzea Grande no lugar do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), só se via rebuliço cercando a obra.

Seja por birra do ex-prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, por ser contra a troca, ou pela também birra do governador Mauro Mendes que, numa decisão unilateral, optou pelo BRT para a capital.

Depois de alfinetadas e resistências entre os gestores, começou a execução do BRT. Porém, em dois anos de construção, não deu outra coisa a não ser a lentidão, os transtornos e a suspensão da obra, tal qual assistimos agora.

Outra vez, Cuiabá e Várzea Grande não driblaram o destino delas, ou melhor, não escaparam daquela sucessão de acontecimentos inevitáveis que fazem as ações de mobilidade urbana nas cidades começarem, mas não serem finalizadas no tempo certo.

Alegando atrasos não justificados, o governo rompeu o contrato com o consórcio do BRT. O fato é que, em dois anos, apenas 18% da construção do modal foram realizadas, o que fez acender a luz vermelha neste início de 2025.

O diferencial da situação de agora da paralisação do BRT em relação ao abandono do VLT no passado é a quantidade de vozes que surgiram opinando sobre a obra e pontuando preocupação com a implantação do modal. Seria um efeito do acesso à informação, das mídias sociais de agora?

De vereadores a prefeito de Cuiabá, passando por presidente de Tribunal de Contas, membros do Ministério Público e parlamentares da Assembleia Legislativa, a dirigentes de entidades de classe da capital, todos, de alguma forma, se solidarizaram com o governo e reprovaram o atraso do BRT, temendo inclusive a judicialização da obra.

Demonstraram certa surpresa. Mesmo porque, deve-se ponderar que, aparentemente, fora do governo, não se tinha acesso ao cronograma das obras nem às medições, o que, em tese, mostrariam o andamento dos trabalhos. Daí que só faltou mesmo chamar a ‘cavalaria’ (a força terrestre de combate) para dar conta da encrenca que virou a obra do BRT.

Voltando no tempo, a deliberação pelo BRT, com o argumento de se tratar de um modal mais barato, além de uma saída para o corrupto processo do VLT da Copa de 2014 que não vingou, foi exclusiva do executivo estadual.

Em nenhum momento as populações de Cuiabá e VG foram consultadas sobre o que preferiam – se a finalização do VLT, ou sua troca pelo BRT. Não houve (pelo menos que eu conheça) também nenhum parecer técnico de algum comitê sinalizando a melhor solução em relação à mobilidade urbana, ou engenharia de tráfego talvez, para as cidades.

Assim, numa decisão política, o governo quitou dívidas do VLT com a União, buscou a aprovação de seu cancelamento por parte de um Conselho Deliberativo Metropolitano da Região do Vale do Rio Cuiabá que nunca se reunia, e partiu para a licitação de um projeto na modalidade de contratação RDCI – Regime Diferenciado de Contratação Integrada.

Por esse modelo, “todo o detalhamento da obra e dos demais projetos são de responsabilidade da empresa contratada, no caso o consórcio construtor”. Isso foi oficializado em 2022 e o prazo de conclusão do BRT era final de 2024, depois adiado para o fim deste ano.

Neste instante, a execução do BRT está em suspenso. O governo segue em reuniões com o consórcio construtor, discutindo os termos da rescisão, principalmente os referentes à conclusão de frentes abertas pela obra e o ajuste de valores já pagos.

Por sua vez, a Assembleia Legislativa faz hoje oitiva sobre a implantação do BRT Cuiabá-VG com o secretário de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra), Marcelo Oliveira, e, na próxima quinta-feira, com representantes das empresas construtoras.

Também do lado do consórcio construtor, ontem findou o prazo, que somou 10 dias úteis, concedido pelo executivo estadual para que apresentasse a defesa e justificativas quanto à notificação da rescisão do contrato, orçado inicialmente em R$ 468 milhões.

Juntando o tempo de interrupção da obra com o vai e vem burocrático do imbróglio, já está em quase 30 dias o tempo de paralisação dos trabalhos do modal na avenida do CPA, em Cuiabá.

Enquanto a solução se arrasta, os transtornos por conta disso vão se avolumando em várias frentes – comércio e serviços da avenida reclamam dos prejuízos, motoristas particulares, de aplicativos, taxistas e de coletivos trafegam com insegurança na região e ainda pedestres estão injuriados com a demora dos serviços.

No final da semana passada, mais um componente desse cenário de obra parada, igual como vimos na implantação do VLT de saudosa memória, ganhou visibilidade – um carro caiu na vala de obras na avenida do CPA.

Nesse quadro de ocorrências, a coisa só piora, demandando, portanto, a tão propalada ‘gestão qualificada’, que é uma bandeira da administração MM, para solucionar o problema.

Mas isso ainda não se viu e nem se vê no atual caso do BRT Cuiabá-Várzea Grande.

*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte

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