No Dia do Jornalista, luzes e sombras da profissão
Segunda-feira (7) comemorou-se, no Brasil, o Dia do Jornalista. A data foi criada em 1931 (século XX) pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em homenagem ao trabalho do profissional que é responsável pela apuração, investigação e apresentação de informações de interesse público em formatos e mídias diferentes.
Mas antes da criação da data já se verificava a atuação de jornalistas no país. Começou em 1808, visto que, proibida por mais de 300 anos, a imprensa só passou a existir no Brasil com a chegada da Família Real Portuguesa. Assim, o jornalista atual abarca as principais mudanças ocorridas na história da imprensa brasileira.
Ele atua nos meios de comunicação tradicionais, que são os jornais e revistas impressas e as emissoras de rádio e televisão, e também nas variadas mídias e plataformas digitais, tais como sites, blogs, newsletter e podcasts, entre outras. Em qualquer um dos meios deve trabalhar tendo como base a isenção e fontes confiáveis.
Pilar da democracia, o jornalismo, conforme nos ensina o professor Nilson Lage (em memória), “é composto de mazelas e grandezas”. Neste 7 de abril de 2025 que acabou de passar fui atrás de colegas profissionais do Jornalismo que estão na labuta diária nas redações dos veículos de imprensa. Perguntei a eles o que ‘podemos comemorar’ e o que ‘não podemos comemorar’ no Dia do Jornalista.
Seguem, primeiro, as respostas para ‘não podemos comemorar’:
“Ter que trabalhar em escala quase que industrial na produção de conteúdo para mídias digitais. O trabalho investigativo da apuração vai sendo deixado sistematicamente de lado, o que precariza a relevância das temáticas, assim como distancia o ofício de seu papel social transformador”. (Natacha Wogel, 48, editora do Leiagora)
“Não comemorar as ameaças físicas e o assédio judicial que muitos colegas sofrem”. (Anselmo Carvalho, 53, editor-chefe do MidiaNews)
“Nunca antes na história a profissão de jornalista esteve tão precária: faltam empregos, os veículos impressos fechando em ritmo acelerado, salários em queda e a ‘fascinante’ inteligência artificial tomando conta do mercado”. (Vasconcelo Quadros, 69, freelancer)
“A questão do salário (baixa remuneração) aliada à falta de aptidão e compromisso de colegas em ir além do declaratório”. (Noelma Oliveira, 56, editora de A Gazeta)
“A violência e o desrespeito com a imprensa que, infelizmente, geram medo no exercício do jornalismo”. (Luzimar Collares, 52, editora-chefe e apresentadora TVCA)
“Lamentar a perda do verdadeiro sentido profissional, motivado pela fobia digital”. (Montezuma Cruz, 72 anos, jornal Varadouro – AC)
“Os ataques extremistas ao jornalismo, aos jornalistas e às jornalistas; os desafios da tecnologia sob controle e interesses comerciais das Big Techs”. (Pedro Pinto, 67, PNB Online)
“A precarização da profissão por conta das redes sociais. Nelas, há hoje condutas individuais que passam longe da responsabilidade ética e social do jornalista profissional, o que confunde e prejudica nosso trabalho”. (Anderson Pinho, 51, Dialum)
Agora seguem as respostas para ‘podemos comemorar’:
“Acho que há sempre, e cada vez mais, o que se comemorar no Dia do Jornalista. Trata-se, afinal, de um ofício fundamental contra a ascensão de todo tipo de autoritarismo, contra a relativização da democracia, contra os fanáticos envenenados pela mentira. Um viva ao jornalismo”. (Anselmo Carvalho, 53, editor-chefe do MidiaNews)
“A coragem e a força de vontade de alguns colegas em praticar e contar uma boa história”. (Noelma Oliveira, 56, editora de política de A Gazeta)
“Há luz no fim do túnel. E não é um trem descarrilhado. A reportagem verga, mas não quebra. A mesma internet que tira postos de trabalho tem permitido o surgimento de plataformas de conteúdo jornalístico (informação, interpretação e análise de fatos) que absorvem a mão de obra experiente e as legiões de novos jornalistas que as universidades jogam no mercado, num bailado interessante entre o velho e o novo”. (Vasconcelo Quadros, 69, freelancer)
“Podemos comemorar a liberdade de expressão, que infelizmente é confundida, por alguns, com esculhambação; o que se vê de pior nas redes sociais”. (Montezuma Cruz, 72, jornal Varadouro – AC)
“A alegria do jornalista nos dias atuais é saber que, mais do que nunca, ainda é o profissional responsável por tratar a informação com seriedade, por ser aquele com a atribuição de reportar os fatos como eles são realmente, combatendo as fake news”. (Natacha Wogel, 48, editora do Leiagora)
“Podemos celebrar a luta diária do jornalista em transmitir uma informação apurada, checada, verdadeira, que retrata a realidade como ela é. Isso significa combater a desinformação, o que é difícil principalmente em questões de natureza política neste ambiente polarizado do país”. (Anderson Pinho, 51, Dialum)
“A profissão de jornalista continua sendo muito relevante para uma sociedade democrática. E hoje em dia, com a tecnologia, podemos atuar como jornalistas de diferentes maneiras, não somente nos veículos tradicionais, como antigamente”. (Luzimar Collares, 52, editora-chefe e apresentadora TVCA)
“O Dia do Jornalista é uma data simbólica para comemorar quem toma para si um ofício que revela as mazelas do poder, torna comum a informação. Essa é uma grandeza ética e moral”. (Pedro Pinto, 67, PNB Online)
Dessa interlocução com meus colegas jornalistas resultaram reflexões e reivindicações importantes para o exercício da profissão e pelo menos uma certeza – a de que o passar do tempo só fortalece o Jornalismo como uma responsabilidade social nossa diária indispensável à democracia.
À luta, pois, sem deixar a peteca cair.
*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte.
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