COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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O avanço da gripe e o papel das autoridades

Foto: Erlan Aquino/Prefeitura de Cuiabá

Já faz uns dois meses que vem soando em Cuiabá, assim como em outras localidades de Mato Grosso e do país, o alerta para a alta de casos de gripe e o apelo para a população prioritária se vacinar. Agora, a preocupação ganhou força com o inverno que, oficialmente, chegou ao país na sexta-feira passada (20). A estação se estende até 22 de setembro, quando dá lugar à primavera.

Em Cuiabá, dados da Vigilância Epidemiológica indicam aumento de cerca de 530% nos casos notificados de Influenza A e B neste ano (638 casos), em relação a igual período de 2024 (92 casos). De janeiro a maio foram confirmados 11 óbitos por Influenza na cidade, incluindo uma criança. Nesta semana, a capital registrou a terceira frente fria do ano, sendo a primeira do inverno de 2025.

Até meados deste mês, apenas 21,37% da meta de vacinação do público-alvo em Cuiabá havia sido atingida, sinalizando risco de agravamento do cenário epidemiológico. Já em Mato Grosso, em maio, a cobertura vacinal do grupo estava em 27%. No total, foram 403.596 doses aplicadas nos municípios. A campanha continuará durante todo o ano de 2025 na capital e no estado.

Ao notar a queda na vacinação da gripe no país como um todo, especialistas chamam a atenção da população, na internet, para a imunização. A médica Margareth Dalcomo lembrou que “nunca tivemos tantos casos de gripe (Influenza A e B) evoluindo para quadros graves”, garantindo que “a melhor forma de se proteger continua sendo a vacina”.

São grupos prioritários da vacinação pessoas com mais de 60 anos ou condições como diabetes, hipertensão e doenças autoimunes – essas devem “redobrar a atenção”, recomendou Dalcomo. Crianças de seis meses a seis anos, gestantes e puérperas, povos indígenas e comunidades quilombolas, trabalhadores da saúde e professores também integram o público-alvo.

Em nota à coluna, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que o governo investe para melhorar os índices de vacinação junto às prefeituras, que são as responsáveis pelas ações de vacinação. Acrescentou que executa o programa Imuniza Mais MT, que, entre 2021 e 2024, premiou 49 municípios com um total de R$ 13,3 milhões em recursos.

De seu lado, a Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa da Cidadania, Consumidor, Direitos Humanos, Minorias, Segurança Alimentar e Estado Laico do MP Estadual monitora a cobertura vacinal de 17 imunizantes desde 2023, incluindo da gripe. Batizado de Vacinômetro, o último ranking do projeto indicou que os 42 municípios mato-grossenses com a pior cobertura para influenza (idosos) apresentaram taxas inferiores a 50%.

Nesses casos de baixa vacinação, segundo informou o procurador de Justiça José Antônio Borges Pereira, o MP remete as informações aos promotores de Justiça, pedindo as providências cabíveis em cada município.

Questionada se a pouca procura poderia ser motivada por insuficientes campanhas de divulgação, a SES respondeu que “a resistência da população à vacinação não tem causa única e também não é exclusiva à vacinação contra a Influenza”. Enfatizou que “a questão é ampla e engloba todo o país”, sem especificar causas.

Analisando também essa queda na busca pelo imunizante, Borges Pereira lembrou à coluna que as vacinas passaram “a ser desacreditadas no país a partir da pandemia da Covid-19”, repercutindo até agora. Ele pontuou que, considerando isso, o monitoramento do projeto Vacinômetro busca ainda sensibilizar a população sobre a eficácia das vacinas. E defendeu mais campanhas de incentivo à vacinação na mídia.

Como enfatizou Margareth Dalcomo, no chamamento via Instagram, “mesmo que nenhuma vacina ofereça 100% de proteção, qualquer grau de imunidade já é um ganho para sua saúde e para quem está ao seu redor”.

Independentemente do inverno, combater a alta dos casos de gripe em Cuiabá com vacinação está mais difícil diante dos recentes posicionamentos, na mídia, da secretária municipal de Saúde e da primeira dama da capital.

A primeira disse que a “Covid não fez nada comigo, a vacina acho que fez” e a segunda declarou apoio ao projeto de colega vereador que visa proibir sanções administrativas ou penalidades contra pais ou responsáveis que não vacinarem seus filhos contra a Covid-19”.

Mas o que tem a ver a vacinação contra a gripe com a que protege contra a Covid-19, se são doenças diferentes?

Não há relação. Mas quando agentes públicos colocam em dúvida a eficácia de uma, muitas vezes por razões políticas ou ideológicas, prejudicam e plantam desconfiança na população em relação a todas as vacinas, o que atinge diretamente a campanha da gripe.

Com tanta informação disponível sobre vacinas não é aceitável assistir novamente o filme que já vimos na pandemia da Covid-19.

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