COLUNA

Sônia Zaramella

soniaz@ehfonte.com.br

Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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O delicado equilíbrio na seleção das notícias

Foto: Reprodução/Facebook

 

Pensei que aos 70+ de idade não precisaria mais me preocupar em ‘pisar em ovos’ nas relações sociais, nas conversas do dia a dia, no trabalho e principalmente nas posições que se assume nas redes sociais.

Imaginei que a essa altura da vida não precisaria mais agir com extrema cautela em uma situação delicada, com medo de ofender alguém, causar problemas ou polemizar com este e aquele amigo, colega, figura pública etc.

Ledo engano!

A meu ver, a cada ano que passa, ao invés de acalmar, essa situação se complica bastante nas diferentes interações. Porém, vou restringir essa reflexão ao meu metiê, que é trabalhar com opinião, informação e curadoria jornalística.

Embora já tenha percorrido anos de profissão, encaro esse drama diariamente. E identifico pelo menos duas razões para isso – a pluralidade e quantidade de fontes de informação digitais que repercutem nas redes sociais e a polarização política.

Nesse contexto, a minha rotina no jornalismo exige muito autocontrole, que é a capacidade de moderar emoções, impulsos, comportamentos e pontos de vista em relação às informações, idéias, sugestões e opiniões que acompanho nas mídias e nas redes sociais no dia a dia.

Desse modo, usando técnicas jornalísticas, imponho critérios, em especial o interesse público, para analisar e aprovar conteúdos jornalísticos que serão re-publicados.

Registra-se que autocontrole não é autocensura, ou seja, o ato de censurar o próprio discurso sem pressão de qualquer autoridade ou instituição específica.

No passado, nas coberturas jornalísticas durante a ditadura militar no Brasil, por exemplo, parcela de jornalistas, na qual me incluo, considerando a gravidade de situações, eventualmente se via obrigada a realizar a autocensura para evitar consequências não muito boas para si mesmo.

Mas de uns anos para cá, já em plena democracia, penso que, no geral, de modo especial fomentado pela popularização das redes sociais dos tempos atuais, o autocontrole é que ganhou notoriedade.

E tal condição se manifesta muito em razão da incompatibilidade ideológica que emergiu nessas mídias ultimamente. Sinais disso são mensagens nesta linha postadas no Facebook e Instagram – “as diferenças nos enriquecem, o respeito nos une”. – “Não brigue, tome café”.

Como escreveu Fabrício Carpinejar, “na maior parte das vezes, quem silencia não concorda. A quietude é uma declarada oposição de quem cansou de brigar, de quem viu que não vale a pena nem discutir”, sugerindo que as pessoas optam pela paz.

Pessoalmente, por um bom tempo, fugi da tentação de criticar ou comentar coisas e situações (incluindo políticas) nessas plataformas digitais online. Meu autocontrole funcionou!

Agora, pela dinâmica da vida, me vejo fazendo curadoria de notícias no eh fonte e percebo que a serenidade precisa de reforço, assim como os critérios jornalísticos precisam ser mais apurados para a seleção das notícias.

Abaixo estão alguns títulos publicados na mídia local que não selecionei nem comentei, para evitar cliques, engajamentos e compartilhamentos, visto que, na minha avaliação, vão na contramão do interesse público.

– Secretária de Saúde: “Covid não fez nada comigo, a vacina acho que fez”

– Presidente da Câmara de Cuiabá faz moção de apoio a PL do Estupro

– Não existiu golpe, foi em defesa da família, diz Ranalli sobre ditadura militar

– Cattani debocha de “Ainda Estou Aqui” e critica “apologia ao comunismo”

– Abílio diz que Rei Momo não colocará as mãos na chave de Cuiabá. “Dei ao Senhor”

 Confesso que está difícil!

*Os textos das colunas e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do eh fonte.

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