Portão do Inferno: erro anunciado
A mudança de rota nas obras do Portão do Inferno, na estrada de Chapada dos Guimarães (MT-251), é ao mesmo tempo uma surpresa e uma confirmação de que havia, de fato, algo errado. A lentidão dos trabalhos e a ausência de um cronograma claro por parte da Secretaria de Infraestrutura de Mato Grosso (Sinfra) sempre levantaram dúvidas sobre a condução do projeto.
Em janeiro de 2024, escrevi sobre a “campanha midiática” do governo estadual contra o ICMBio para pressionar pela estadualização do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Alvo de críticas por planos de garimpo e expansão imobiliária, o governador Mauro Mendes recuou.
Sem diálogo com a comunidade, ambientalistas ou mesmo discussão sobre o projeto, o governo anunciou o retaludamento (recorte do morro), que apresentava risco de deslizamento. Segundo o governo, era a única alternativa – mais rápida e econômica. Contrataram a empresa Lotufo Engenharia por R$ 29,5 milhões.
Primeiro colocaram as telas de proteção, apelidadas de “telas de galinheiro”, depois instalaram uma barreira dinâmica, destinada a garantir a segurança do trânsito durante a execução das obras, retiraram a vegetação, fizeram no local uma terraplanagem – e nada mais.
Agora, o chefe do Executivo informa que existe inconsistência no projeto inicial. A obra na pista naquele trecho é apontada como “inviável”, sendo necessário uma nova solução. Isso porque houve uma “surpresa geológica”.
O anúncio do governador de que o retaludamento do morro não deve mais seguir adiante só reforça que a pressa em escolher uma solução sem estudos aprofundados foi um erro grave. O resultado é um cenário de incerteza, frustração e atrasos que poderiam ter sido evitados.
Na semana passada, representantes da Câmara Municipal de Chapada dos Guimarães realizaram visita ao local cobrando uma solução para a cidade. Mas ninguém esperava que a falta de avanços fosse resultado de um impasse crucial. Até então, Mauro Mendes afirmava que a obra ainda seria entregue neste ano.
A região é de rochas frágeis, com camadas de arenito. Desde o início da polêmica, todos alertavam que o problema era antigo. Especialistas também apontaram que o retaludamento não era a melhor solução. Houve críticas à falta de integração entre os órgãos, à ausência de estudos adequados e ao modo como as decisões foram tomadas.
A única certeza até agora é que o governo já gastou milhões sem transparência, enquanto a população segue sendo a principal prejudicada. Sem solução definida, o tempo perdido só aumenta a sensação de descaso. O projeto fracassou. Resta aguardar o próximo anúncio.
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