COLUNA

Sônia Zaramella

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Relatos e fatos, pessoais ou não, do passado e do presente de Cuiabá e de Mato Grosso.

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Maceió afundando e paredão da Chapada desmoronando

Voltei para casa, em Cuiabá (MT), depois de uma temporada em Maceió (AL), capitais brasileiras que, guardadas as proporções, passam por impactos ambientais que não cessam desde o fim do ano passado e que, na minha visão, não podem ser desprezados pela gravidade que apresentam e porque ecoam no meio de seus visitantes e moradores.

No caso de Cuiabá, sua proximidade a Chapada dos Guimarães (65 km) faz a cidade acompanhar com apreensão os deslizamentos de rochas na região do Portão do Inferno desde dezembro passado. A maioria dos cuiabanos percebe os danos ao ambiente de Chapada. As interdições a todo momento na rodovia MT-251 afetam o tráfego de pessoas e veículos, o deslocamento de residentes que trabalham, ou dependem da Chapada, e vice-versa.

Os riscos de deslizamento prejudicam o turismo da região, atrapalhando a circulação de visitantes nas cachoeiras e áreas de contemplação usadas para lazer e para desfrutar seu clima ameno. Sabe-se claramente que o ambiente da Chapada é delicado. Ontem, a coluna da colega Adriana Mendes trouxe um retrato real da situação problemática e política da região, que já é antiga, não de agora. Leia aqui no eh fonte

Com relação a Maceió, a situação da capital alagoana é preocupante. Uma grande área da cidade está isolada por causa da instabilidade do solo provocada pela mineração de sal-gema pela empresa Braskem. Por causa disso, notícias segundo as quais Maceió está afundando circulam no Brasil desde novembro de 2023. A mina 18, às margens da lagoa Mundaú, rompeu em dezembro passado. 

Como já tinha programado a temporada na cidade, prossegui com minha agenda. Mas aproveitei a visita para saber dos maceioenses se o turismo da cidade, que é a base da economia local, estava sendo prejudicado pelo popularmente disseminado ‘buraco de Maceió’. Não busquei respostas de setores estruturados, institucionais ou oficiais, mas sim com as pessoas que vivem do turismo.

O grupo mais otimista é o dos motoristas. Para Vanderson e seu colega José não há queda de serviço neste verão por conta “do buraco abrindo em Maceió”. Além disso, “a cidade inovou com o Verão Massayó (shows gratuitos) e a rota de Cruzeiros que trará visitantes do mundo todo (média de 140 mil) para nossa cidade até abril”, lembrou, confiante, o também motorista Edcleison.

Já Alessandro, outro integrante da categoria, discorda. Para ele,  o turismo está apresentando queda “seja pelo afundamento do solo ou pela economia mesmo”. Apontando para a via da orla de Pajuçara, diz que “essa avenida aqui do pavilhão do artesanato, sentido litoral sul, era um corredor de ônibus de turismo que não estamos tendo agora”. “O comércio está parado, sem gente nas ruas”, completa.

Esse entendimento da repercussão danosa é compartilhado por Jennifer, gerente de um bar e restaurante na orla da praia de Ponta Verde. Ela contou que os turistas que frequentam o bar falam que muitos amigos cancelaram a viagem para Alagoas por causa das notícias. O movimento caiu de 5% a 10% em relação à temporada passada, calculou Jennifer, lembrando que em dezembro de 2022 o restaurante lotou praticamente todos os dias, o que não ocorreu em dezembro de 2023. “Sentimos a diferença”, assinalou.

A mídia tratou a informação do afundamento do solo de uma forma que prejudicou Maceió, na avaliação desses trabalhadores. Jennifer reprova, enfatizando que “Maceió não se resume aos três, quatro bairros que estão passando por isso”. O pescador Jorgival reitera que não é a capital em si que tem problema, “são bairros da cidade que a Braskem vem explorando há anos, deixando o solo igual a um queijo suíço”.

De sua parte, a vendedora Adenaide disse que a comercialização de peixes e camarões está do mesmo jeito de 2023. “Meu ponto aqui na região dos bairros e praias de Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas, que não foram abalados pela mina, está com vendas normais”, enfatizou. Ela reclama só do sururu, molusco referência na culinária alagoana, que está escasso e subiu de preço de R$ 5,00 para R$ 50,00 o quilo, valor do camarão.

Gustavo, conhecido por Gaúcho, instrutor de stand up paddle (surfe com remo) vê as praias de Maceió vazias. “Em relação ao pós-réveillon de 2023, o movimento agora está fraco”, disse, explicando que “o turista vem, passa dois dias na cidade e vai para outras praias, Maragogi, Milagres, Ipioca, onde fica mais tempo”. Ele atribui essa diminuição de demanda à forma como o problema do afundamento foi noticiada. Gaúcho  estima que seu trabalho de prática esportiva no mar nas praias de Maceió diminuiu de 60% a 65%.

Nisso tudo, seja em Maceió ou em Chapada, seja aqui do nosso lado ou distante, lá no mar, nossas vivências só reforçam o recado de grande valia que é o de cuidar do meio ambiente o tempo todo. Uma cidade não pode afundar, os paredões não podem desaparecer.  Por isso, viva as cachoeiras, viva o caldinho de sururu!

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